Tales of The Undead

Blog de contos de horror, crônicas e outros delírios do cotidiano

             O vento uivava ao longo do escuro vale, e o som que fazia era como o de uma multidão de condenados, que desesperados, imploravam clemência de um criador surdo aos seus apelos. Há tempos, naquele vale amaldiçoado não caminhava viva alma, apenas sombras estranhas e densas que tinham vida própria, e outros horrores que são impossíveis para a mente humana imaginar, tentativas vãs de imaginar os horrores que ali habitam, transformam doutores da ciência em seres vegetativos.

        Segundo velhos ditados, os quais cresci ouvindo, um homem já se aventurou naquela região inóspita e traiçoeira. Anos depois descobri que não se tratava de um homem, era sim uma linda jovem de nome Vanessa, filha de um rico comerciante local. Tudo que sei sobre esta trágica jovem e que apesar de toda a riqueza que possuía, não tinha motivos suficientes para viver. O porque? O mal do nosso século, coração partido. Conto a seguir os relatos como ouvi das diversas bocas da minha vila, e algumas considerações que eu mesmo fiz, procurando juntar os fatos que faltavam na lenda.

         Menina bem educada e prendada viveu a maior parte da vida num internato. As Filhas de Maria era conhecido como um internato dos mais rigorosos da época, nada sei sobre sua estadia lá, mas com certeza, não foi das melhores. Quando retornou ao seio da família na velha casa dos Lopes, era uma moça muito bonita, o que logo chamou a atenção dos solteiros da região. Embora lutassem entre si pelo coração da moça, um simples camponês de nome Adolfo, ganhou com a sua famosa amabilidade e sinceridade o coração da moça.

         Filha de um barão por demais preconceituoso, Vanessa teve seu amor tirado bruscamente. Seu pai mandou matar o jovem de forma cruel, e no dia seguinte expôs sua cabeça decepada na entrada da sua luxuosa mansão. Dizem que Vanessa ficou ali, sentada observando a cabeça morta se decompor aos poucos durante vários dias, pouco comia e nem sequer sorria. Seu velho pai, julgando ser apenas um capricho de adolescente, nem sequer se importou e assim ficou até ser informado do desaparecimento dela pela governanta aflita, que foi chicoteada até a morte pelo descuido.

          Depois de dias de buscas encontraram seu corpo, com uma corda no pescoço, pendurada em um velho carvalho do bosque maldito. Os lacaios nunca esqueceriam a visão que tiveram do seu semblante morto, segundo um amigo do peito seu avô que era um deles, até hoje sonha com aquele dia. Eles retiraram o corpo da jovem e o entregaram a um desolado barão, que chorava desconsolado. O que houve depois ainda é um mistério, eu mesmo não consigo explicar e toda vez que penso sobre isso, sinto minha sanidade me abandonar aos poucos. Tudo que sei, e que todos sabemos e que preferem que assim tenha acontecido, e que os habitantes da mansão sumiram em questão de dias. As pessoas preferem pensar que foram embora dessa terra por causa da vergonha, mas eu e apenas eu sei a verdade, eu sei o motivo do bosque hoje ser amaldiçoado.

     Por quê eu sei? É porquê daqui da minha varanda, sentado na velha cadeira de balanço de carvalho, que foi da minha avó, enquanto escrevo essas palavras, posso ver no horizonte banhando pelo luar o vulto esquivo de uma jovem segurando a cabeça de seu amado pensativa...

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